Os triângulos no futebol: compreensão através da aplicação argentina

20 de mar. de 2008

Eduardo Fantato e Rodrigo Grassi Martins

Eduardo é mestre em Ciências do Esporte e diretor da ScoutOnline
Rodrigo é mestre em Ciência da Computação e responsável pelos
projetos esportivos da ScoutOnline

Buscamos nesse texto expor com auxilio de recursos tecnológicos, uma reflexão sobre algumas construções que muitos dizem filosófica e as vezes não enxergamos no campo prático do jogo.

O futebol deve ser baseado em triângulos !? (interrogação ou exclamação).

Antes vamos mudar dos pés para as mãos e lembrar de Phil Jackson um técnico (e pouco mais do que isso, basta vermos suas conquistas) do basquetebol americano que junto com o Tex Winter (que seria o criador do sistema) aperfeiçoou e defende a filosofia do Sistemas dos triângulos (traduzidos por alguns no Brasil como sistema de ataque por oportunidades iguais), vejam bem, é chamada de filosofia de jogo.

Os principais fatores dessa filosofia são a recusa de qualquer desculpa que prejudique o aprendizado e a sincronia e coletividade da equipe que permita que os jogadores sempre busquem oportunidades para pontuar.

Bem, vamos lá, um sistema de triângulos não é apenas uma filosofia é a forma básica de se criar possibilidades táticas em um jogo. Ocupação de espaço, compactação da equipe, movimentação sincronizada, balanço defensivo, criação de linhas de passes, muitas outras possibilidades

Figura 1: ilustração dos triângulos no basquete (http://www.5starhoops.com)

Oras mas futebol é diferente!!!!! Com certeza !!!! Temos mais jogadores e mais espaços, ou seja maior possibilidade de organizar tais triagulos e maior variedade desses. Humm! Mas ai que esta o problema, quanto mais jogadores envolvidos mais dificil organizar um sistema com tamanha complexidade e comprometimentos dos atletas.

Dai talvez o porque Phil e Tex caracterizam como filosófico, porque se o jogador não acreditar e não compreender (isso não significa aceitar sem questionamento) realmente a coordenação desse sistema rui. É necessário estimular o jogador para que busque a movimentação, a triangulação tão solicitada no futebol, que crie as linhas de passe, se posicione em sincronia com os companheiros...

Ah! Mas o jogador não consegue! É facil teorizar mas ninguém coloca isso em prática. Não podemos ficar aqui achando(botando) sempre empecilhos, e sim intervir no processo, “quebrar a cabeça”, nunca esconder-se, permitir que próprio sistema de triângulos aponte chances e possibilidades de tentar o acerto.

Temos um exemplo nítido no futebol que é a seleção da Argentina, alias a disciplina tática dos nossos “hermanos” é de invejar.

Mas antes de adentrarmos nos triângulos da seleção, lembramos de certa vez tivemos a oportunidade de assistir partes de um treino de Carlos Bianchi, ex-técnico do Boca Juniors. Á época no calor das finais da Libertadores, a qual ganharia em cima do Santos. Bianchi comandava um treino com grupos de três atletas e uma movimentação que desfazia e formava outros trios pelo campo inteiro, sequenciados e sincronizados com bola e movimentação. Um volante, um zagueiro e um meia... derrepente naquele mesmo espaço encontravamos o mesmo volante com o lateral e o atacante. Ultrapassagens, jogadores invertendo linhas de passes e movimentações sincronizadas, uma verdareira orquesta num treino de futebol.

As vezes não percebemos e demoramos para assimilar o que observamos, no jogo contra o Santos um gol de Tevez (http://www.youtube.com/watch?v=4uaqWhmtcx4) nos remetou aquele treino, bola longa da esquerda para direita na linha de fundo, retorno para o meio , jogadores encurtam espaços, triângulos se formam a todo instante, tabela rápida e...viajamos para 2006 para o gol de Cambiasso (http://www.youtube.com/watch?v=6R_iYLca2gc) contra a Sérvia e Montenegro, 25 passes e incontaveis triângulos dinâmicos surgiam e se desfaziam e uma das jogadas de gol mais fantástica de uma Copa do Mundo.

Bom difícil deixar a emoção de lado, mas voltemos a razão. Mostras claras que o treino reflete no jogo. Que um planejamento tático envolve treino, compreensão e aplicação, quantas vezes a Argentina não atua de tal maneira e não se destaca porque não ocorreu um gol diretamente de um dinâmica similiar. Mas isso já faz parte de um processo de jogo característico e que é nitidamente destacado em relação a qualquer outra seleção que disputou a copa.

Ilustramos com as informações de fluxo de passe da Argentina contra a Sérvia e Montenegro na Copa da Alemanha

Fluxo de Passes - Argentina (vs. Sérvia - Copa da Alemanha)


Quer saber o que singinfica esta imagem?
Clique Aqui!

Ferramenta da ScoutOnline baseada no posicionamento efetivo de cada jogador e que mostra a distribuição de bola. Cada cor identifica um jogador e a espessura da linha o volume de bola jogada para determinado companheiro.

É muito evidente os triângulos que os jogadores formam, ampliando as opções através de movimentações e criação de linhas de passe. Desmembramos a imagem do fluxo de passe por grupos de 3 jogadores, a posição indicada é a padrão mas podemos perceber através dos fluxos e jogadores envolvidos o nível de articulação e movimentação das ações ofensivas da Argentina e a importância de Mascherano, Cambiasso e Riquelme, colocando suas individualidades a serviço da equipe, a baixo a circulação de bola entre os três jogadores.


A seguir os triângulos formados com Mascherano (8) , Cambiasso (5) e Riquelme (10):

Tendo apenas Cambiasso como base


Tendo apenas Mascherano como base


Tendo apenas Riquelme como base


Tendo Mascherano e Cambiasso como base

Tendo Riquelme e Mascherano como base


Tendo Riquelme e Cambiasso como base


Uma verdadeira aula de futebol aplicado, não no sinônimo que nós brasileiros alcunhamos, considerando como um futebol aplicado aquele de forte “pegada”, mas de uma transferência de algo planejado, treinado, e aplicado ao campo de jogo.

Alguns diriam, mas a Argentina não ganhou!

Texto publicado em 20/11/08 no www.cidadedofutebol.com.br

4 comentários:

Anônimo disse...

Me diz uma coisa...
Em qual lugar do mundo, com quais professores... Aonde encontramos aulas com esta complexidade tática no mundo do futebol? Até hoje não encontrei um lugar sequer para estudar futebol de maneira coerente e científica!
Parabéns pelo texto!

Anônimo disse...

Sou professor de futebol e trabalho com as categorias de base... Não estou em um clube grande, devido a isso tenho liberdade para aplicar coisas que aprendi no meu curso de ed.Física e na vida... Tive a oportunidade de ser auxiliar em um clube profissional da minha cidade, na primeira vez que dei um treino só de passes me mandaram embora... só poruq e não coloquei um na frente do outro para passar.... concordo com o comentário acima.... MEU DEUS, QUERO APRENDER MAIS E MELHORAR, POR ONDE COMEÇAR???

Anônimo disse...

Pessoal infelizmente no Brasil não temos essa prática: ESTUDAR FUTEBOL.
Discute-se que o futebol é imprevisivel e isso justifica tudo, mas o que vemos é que muitas coisas previsiveis acabam fazendo diferença. Na natação 1 milesimo de segundo faz toda a diferença mas no futebol 10 anos de atraso ou mais não tem a menor importancia pois o Brasil é o unico penta!! ACORDEM TÉCNICOS!!! Em todos os ramos é necessa´rio preparo dedicação e aprofundamento de conhecimento.

Unknown disse...

Fala quer virar comentarista da globo? Fora Galvão. Basquete rulez. Porque você não falou do Jordan? Base das movimentações do bulls? Fanta, voc~e está colaborando com estes artigos? Um abração, Barata.